Tendo por missão disponibilizar serviços de computação avançada às comunidades de investigação, tecnologia e inovação no país, a RNCA rumou ao encontro de Ciência 2022 onde apresentou os resultados da sua experiência em matéria de concursos de projetos de computação avançada (HPC, HTC e Cloud). Os resultados? Bastante positivos. Em 2020, das 133 candidaturas aprovadas, 129 foram aceites. Os número de candidaturas em 2021 revelou-se ainda mais animador, com 162 candidaturas, embora apenas 100 tenham reunido as condições necessárias para serem aceites.
Nestes dois anos, a procura por recursos aumentou e foi claramente superior à oferta – sendo este um dos desafios que ainda se impõe. Tendo sido solicitadas 80 000 000 core.horas em 2020, e 91 105 000 core.horas em 2021, o número de core.horas atribuído foi 35 250 000 e 40 555 000, respetivamente.
Provenientes um pouco de todo o país, os projetos aprovados concentram-se mais em algumas áreas científicas – a física e matemática, química, engenharia e tecnologia -, mas a procura pelos recursos computacionais da RNCA tem vindo a expandir-se para as ciências sociais, da saúde e do ambiente.
Em resumo, foram consumidos aproximadamente 82% dos recursos solicitados, que produziram dados abertos e um número significativo de publicações científicas – bons indicadores do percurso ascendente que tem sido traçado. Em termos de satisfação, numa escala de 0 a 10, as 114 respostas recebidas dos utilizadores dão 8 ao desempenho da RNCA.
A sessão continuou com o olhar direcionado para o presente e para mais recente concurso aberto para projetos de computação avançada focados na inteligência artificial em cloud. Resultante de uma parceria entre a Fundação para a Ciência e Tecnologia e a Google vão ser mobilizados, em core-horas, o equivalente a 1 milhão de dólares para apoiar projetos. Esta edição do concurso coloca em prática, pela primeira vez, a possibilidade de participação de pessoas singulares.
Após o estabelecimento do seu Conselho de Coordenação, ambiciona-se a criação de um Fórum de utilizadores, um Comité de Aconselhamento Externo e uma maior ligação às empresas. A RNCA é atualmente composta por quatro centros operacionais, que foram também apresentados na mesma sessão do Ciência 2022.
Minho Advanced Computing Center (MACC)
Um dos dos grandes focos do MACC (e dos restantes centros operacionais) é o reforço da internacionalização, ainda que já tenham sido passos relevantes. João Barbosa, investigador no MACC, salientou que “já há uma ligação muito forte a alguns centros a nível mundial” estabelecidos nos Estados Unidos da América, Espanha, África, América do Sul e Japão – que detém o Fugaku, o supercomputador mais rápido do mundo.
O MACC opera o BOB, um supercomputador que “tem disponibilizado uma quantidade significativa de cores.hora”. Mas aguarda-se ansiosamente que o seu novo supercomputador, Decaulion, esteja operável para ocupar o lugar de maior máquina instalada no país. Até lá, no Minho, os recursos existentes vão dando provas da sua utilidade, servindo de exemplo um projeto com ligação direta à indústria, neste caso, em moldes para plásticos. Com recurso à supercomputação, foi possivel “uma redução drástica de custos associados aos moldes, que é a parte mais cara”, sublinhou o investigador.
Infraestrutura Nacional de Computação Distribuída (INCD)
Criada em 2017, na sequência da participação em projetos e iniciativas internacionais, a INCD disponibiliza à comunidade científica serviços de computação, processamento e armazenamento de dados. Os seus principais serviços de computação incluem HPC, HTC e Cloud Computing. Os recursos disponibilizados durante 2021 apoiaram 68 projetos internacionais e da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), bem como mais de 50 projetos de computação avançada (CPCA). A INCD suportou em 2021 mais de 62 de organizações e unidades de investigação. Nestas contas, entra também o sucesso no apoio à obtenção de duas patentes relacionadas com a COVID-19 e ainda dois conjuntos de dados abertos com publicação internacional.
A INCD está a alargar a sua capacidade. Jorge Gomes, coordenador do grupo de computação distribuída e infraestruturas digitais do LIP e coordenador técnico da INCD, adiantou que a capacidade do atual centro em Lisboa será melhorada, e que serão brevemente instalados dois novos centros nas regiões norte e centro para “aumentar consideravelmente a capacidade de processamento e armazenamento”.
Laboratório de Computação Avançada da Universidade de Coimbra (LCA)
O Navigator, o supercomputador do LCA, já possibilitou a participação em diversos projetos de relevo a nível nacional e europeu. Atualmente, opera 70 projetos científicos e outros 19 foram recentemente aprovados. A utilização da máquina já foi bem sucedida no mapeamento de partes do cérebro e na realização de simulações sobre a formação e crescimento de polímeros que, segundo Pedro Alberto, docente e responsável pelo LCA, resultou na publicação de um artigo científico de investigadores portugueses na conceituada revista científica Nature.
Neste laboratório também se encontra um serviço de visualização, que tem permitido uma aposta crescente nesta área e que também inclui a formação.
Centro High Performance Computing – Universidade de Évora (HPC-UÉ)
Com uma grande aposta no treino e formação, o HPC-UÉ estende os seus serviços à investigação e inovação, com foco na realização de simulações numéricas com dados de astronomia. “Há observações que só são possíveis com a supercomputação”, salientou o investigador João Rocha, realçando a realização de uma simulação da formação da nossa galáxia e também a observação de diversos fenómenos no buraco negro Sagitarius A.