Batiam as dez horas da manhã, quando, pelo pequeno auditório do LNEC, entravam, ordeiramente, convidados atrás de convidados para o segundo Encontro da Rede Nacional de Computação Avançada (RNCA), a decorrer no dia 15 de novembro.
Entre o consertar das identificações e o ajeitar dos sacos que haviam sido recebidos no momento do registo, lá iam escolhendo os lugares para conseguirem a melhor vista para o palco, que ia ser pisado pelas mais diversas caras da comunidade de computação portuguesa.
João Pagaime, gestor da RNCA, deu, de forma breve, as boas vindas a todos os presentes e oficializou a abertura do evento ao chamar João Nuno Ferreira, coordenador geral da FCCN, uma unidade da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), para liderar a primeira sessão. Foi dedicada à história da RNCA, desde a sua conceção, à formalização e estabelecimento enquanto pilar fundamental na promoção da computação avançada no país.
Computação portuguesa além fronteiras
Francisco Santos, vice-presidente da FCT, sob o mote “Estratégia da Computação Avançada para a Ciência e Inovação”, prendeu a audiência entre os marcos da RNCA desde o seu nascimento (2019) – como a criação dos centros de competências, os concursos e projetos, entre os quais, o EuroCC -, os principais desafios que ainda imperam e abriu ainda caminho para que posteriormente se pudesse elevar o tema a um patamar europeu.
Para melhor exemplificar como a RNCA consegue ter alcance fora do país e como a supercomputação é extremamente vantajosa em ciência, Marija Vranic foi convidada a falar sobre o seu percurso e trabalho. Depois de obter o seu grau de mestre na Universidade de Belgrado, na Sérvia, foi no Instituto Superior Técnico (IST) que decidiu lutar pelo doutoramento. Após a conclusão, voltou a sair de Portugal para abraçar um desafio profissional em Praga, na República Checa, mas regressou pouco depois.
Com o conhecimento académico e os recursos que por cá são disponibilizados, dedica-se a investigar plasmas extremos, combinando teoria analítica com simulações computacionais massivas, para futuras experiências com lasers mais potentes do mundo.
Durante a sua passagem pelo IST, ganhou o prémio internacional de melhor tese de doutoramento a nível mundial na sua área – mas o palmarés estende-se a muitos outros.
As mais recentes apostas da RNCA
Jorge Gomes, membro do LIP e em representação da Infraestrutura Nacional de Computação Distribuída (INCD), liderou a sessão sobre os novos recursos da RNCA.
Em Lisboa houve, muito recentemente, um aumento da capacidade de computação – High Performance Computing (HPC) e High Throughput Computing (HTC) -, bem como de armazenamento, para melhor conseguir responder às necessidades dos utilizadores. Mas os avanços não ficam por aqui: em Coimbra, adquiriram-se novos equipamentos de rede, aumentou-se o armazenamento de longa duração e reforçou-se a proteção de dados. Está ainda a ser planeado um novo centro operacional da INCD a disponibilizar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com novos equipamentos de computação e de armazenamento para HPC, HTC e cloud.
Antes da pausa para o almoço, João Barbosa, do Minho Advanced Computing Center (MACC) e Sergi Girona, do Barcelona Supercomputing Center (BSC), ainda intervieram para falar sobre o Marenostrum 5 e o Deucalion, as duas novas armas da supercomputação ibérica.
Já de regresso e fome saciada, o encontro seguiu-se com uma exposição e balanço das atividades realizadas pela RNCA: os concursos – que foram, mais tarde, o centro de uma outra apresentação -, os centros de competências e o trabalho que por eles é desenvolvido, e as mais diversas oportunidades de formação – com grandes novidades a serem lançadas durante a tarde. A RNCA, com apoio do projeto EuroCC, vai disponibilizar o MOOC Supercomputação, um curso para começar a formar futuros utilizadores que não tenham qualquer base em computação.
“À conversa com os centros da RNCA” e “Computação Avançada ao serviço das empresas e administração pública”, as duas mesas redondas organizadas para fechar o Encontro RNCA 2022, contaram com especialistas dos centros – entre eles, João Pina, membro do LIP -, bem como utilizadores de diversos setores, para uma troca de experiências e conhecimento, tal como dos atuais desafios para que se possa elevar a computação nacional a patamares cada vez mais altos e com maiores níveis de satisfação.