À chegada da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho, em Guimarães, os grandes ecrãs de fundo azul, dos quais sobressaltava a mensagem “Deucalion: Liderar o caminho europeu da supercomputação”, guiavam os convidados até à sala que havia sido preparada para receber a inauguração do novo supercomputador português.
O relógio marcava as 14:30. Havia chegado a altura de todas as atenções estarem voltadas para púlpito, que estava prestes a ser ocupado por um vasto leque de personalidades convidadas a discursar.
O Deucalion é o supercomputador português mais rápido de sempre, capaz de realizar 10 milhões de biliões de operações por segundo, que vem fazer descolar a capacidade computacional nacional. Dúvidas houvesse quanto ao poder da nova máquina, o próprio primeiro-ministro fez questão de as desfazer: “resolve numa hora o que um computador normal demoraria 20 anos”. António Costa acredita que o Deucalion “vai permitir ao país dar um novo salto em frente” e tornar o “made in” em “created in” Portugal.
“Fazemos mais uma vez história na Ciência ao inaugurar o Deucalion”, afirmou Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, durante a sua intervenção. A máquina abre “portas para uma nova infraestrutura nacional e europeia, garantindo ciência de todos e para todos”, acrescentou, confiante de que será “decisivo no avanço da humanidade e da ciência”.
O Deucalion vai dedicar-se à realização de simulações e modelação em diversos domínios científicos: desde a Inteligência Artificial, à medicina personalizada, passando pelo desenvolvimento de novos fármacos, pela descoberta de novos materiais, observação da terra e oceanos e pelo combate às alterações climáticas.
Uma das grandes armas desta máquina são os microprocessadores ARM, que primam pela eficiência energética – a grande aposta da entidade europeia EuroHPC JU, responsável por parte do financiamento deste projeto, em conjunto com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). É o primeiro supercomputador “verde” na Europa, mas “certamente não será o último”, afirmou Anders Dam Jensen, o diretor executivo, que não pôde deixar de frisar que a data (6 de setembro) marcou “um dia bom para a supercomputação europeia”.
A chegada do Deucalion vem colmatar algumas lacunas na capacidade computacional que o país enfrenta, permitindo “mais e melhor investigação” em Portugal, esclareceu Madalena Alves, diretora da FCT. É sinónimo de “inovação” e “impulso na competitividade”, que se vai traduzir, muito em breve, em acesso à comunidade científica, académica, às PMEs e à administração pública.
Na fila da frente, entre membros do governo português, a presidente da FCT e o diretor executivo da EuroHPC JU, esteve também Josep Maria Martorell, em representação do Centro de Supercomputação de Barcelona. Para surpresa da audiência, veio acompanhado da ministra da Ciência e Inovação de Espanha, Diana Morant, como sinal de valorização do “trabalho conjunto entre Portugal e Espanha”.
Entre as personalidades que iam tomando o palco, foi unânime o consenso de que a Europa está a caminhar a largos passos para a autonomia e soberania em supercomputação, servindo o novo supercomputador português como o mais recente exemplo. “Estamos a tornar-nos numa das melhores regiões de mundo em computação de alto desempenho”, frisou Thomas Skordas, diretor geral adjunto da DG – Connect.
Após as intervenções e algumas fotografias, das colunas da sala soou: “Vamos agora entrar no futuro da inovação e da ciência”. Do ecrã que preenchia o fundo do palco, a plateia assistiu ao vídeo de apresentação do Deucalion. No fim, o silêncio absoluto deu lugar a estendidos aplausos, enquanto crescia a inquietação para o momento seguinte – certamente o mais aguardado: a visita às instalações. Foi selar a cerimónia com chave de ouro.